sexta-feira, 14 de março de 2014

#2

        Eu não consigo ser uma pessoa "fofa". Nunca fui. Na verdade sempre fui o contrário disso - irritada, estressada, neurótica, irritadiça, manipuladora, um pouco fria, irônica e sarcástica. Mas isso não quer dizer que eu seja ruim, só que as pessoas entendem errado. 
        Meu namorado vem brigando incessantemente comigo por isso, dizendo que ele faz de tudo por mim e que não dou "a mínima" pra ele, mas não é isso. Não sei mais o que fazer pra ele entender que não é porque eu não sou uma pessoa melosa, hiper meiga e carinhosa que diz eu te amo a cada quinze minutos que eu não o ame de fato. Entre idas e vindas estamos juntos há mais de um ano e pra mim isso é tempo demais, já estou apegada demais a ele, já o considero um apêndice, mas ele parece nunca perceber isso. Eu não sei ficar demonstrando todo o tempo meus sentimentos, eu brigo demais com ele, xingo, bato, faço merda demais e esse é meu jeito, sou impulsiva. Vou procurar ajuda psicológica na Universidade pra auxiliar nós remédios que a psiquiatra passou pra resolver tudo isso também, mas não sei se consigo mudar uma personalidade que foi moldada assim por dezenove anos!
        Ele é dramático, exige demais minha atenção e nunca percebe isso. Fica por horas falando dos problemas que o afligem e, sim, eu sei que devo ouvir e apoiar, entendo isso, mas eu dou minha opinião direta dos fatos. Got a problem? Let's go solve it. Não tenho paciência para dar uma de autora de livro de auto-ajuda, por exemplo. E ele acha que sou egoísta por isso. E isso me irrita. Tudo me irrita. Contudo, eu não saberia viver sem ele.
        Quando tivemos uma crise no final do ano (por minha culpa, claro), e percebi que havia uma possibilidade de nunca mais voltarmos, eu surtei completamente e tive vontade de morrer. Corria sem rumo algum, só pra ver se sentia algo. Chorava o dia todo, queria matar as pessoas, queria pular da ponte porque me sentia inútil sem ele e havia momentos em que não sentia mais nada. Apenas desejava não estar mais ali. Foi quando minha mãe resolveu procurar ajuda psiquiátrica. Apesar de ter quase dezenove anos, sou completamente dependente da minha mãe, financeira e emocionalmente, é como se o cordão umbilical não tivesse sido completamente cortado no meu parto. Tenho essa propriedade de mudar o assunto do que estou escrevendo constantemente e logo, nem eu mesma sei o que está saindo dos meus dedos e nem você deve saber o que está lendo e isso não faz sentido algum. 
        O que eu queria descarregar hoje era isso. Essa pressão que meu namorado fica colocando em mim, pra ser melhor, pra corresponder as expectativas dele, pra subir o nível da simpatia. Eu não sou uma pessoa simpática. Eu não gosto de agradar ninguém e é por isso que só existem pessoas que me amam ou odeiam, não existe meio termo. Eu só faço o que eu quero, não faço só porque determinada convenção social diz que tem que ser feito ou alguém será beneficiado (e eu não ligue para tal beneficiado), apenas. Sei que isso é infantilidade ou coisa assim. Talvez eu mude um dia, talvez não. No momento to indo bem (ou não tão bem) desse meu jeito.

#1

O tempo vai passando e a gente sempre começa a se fazer perguntas. Tem essas de uma família mais séria, como “O que farei no futuro?”, “Qual faculdade escolher?”, “Será que vou passar no vestibular?” ou coisas do tipo. Não me refiro a esse tipo de pergunta. Falo de algo mais banal... Afinal, de que é feita a nossa vida? Banalidades. Eu me pergunto se fiz o certo até aqui, me pergunto o que teria acontecido se eu fosse mais flexível, se eu tivesse a mente mais aberta. Talvez eu tivesse mais amigos, tivesse um namorado, fizesse todas as pessoas a minha volta felizes.
Às vezes – na verdade sempre – eu sinto que tem algo errado comigo. E percebo isso quando estou sozinha. Parece que meus pensamentos não cabem em minha cabeça, e eles me assustam, me fazem sentir medo de mim mesma.
Um grande – grande não, enorme – defeito meu é orgulho. Então me pergunto... Quanto eu perdi por simplesmente não ter dado o braço a torcer? O que custava perguntar o motivo daquela mensagem? Era muito difícil pedir perdão por algo errado? É claro que tem a aquela história do copo quebrado – mesmo que você peça desculpas, ele não voltará a ficar inteiro – mas mesmo assim, somente o fato de alguém ter engolido o orgulho, vindo até você e tentado se redimir, já vale algo, não vale? Pra mim, na maioria das vezes, não. Por culpa desse orgulho bobo, eu simplesmente não aceito ninguém novamente.
Meio que criei um abismo entre eu e meus sentimentos. Peguei aquela parte que sente, tranquei em um baú, passei sete chaves e as joguei no mar. Por que eu quis? Não, porque eu precisei. Aprendi a desconfiar até da minha própria sombra, também por precisão.
Mas e se tivesse sido diferente? E se eu não tivesse sido tão corrompida? Será que seria mais fácil de lidar? Será que seria menos orgulhosa? Será que seria capaz de gostar de alguém? Parece que a cada ferida, você fica mais forte. Contudo, tem uma hora que isso para, pois você nem ao menos é capaz de sentir algo novamente. Caí uma, duas, três... e levantei. Agora? Mesmo usando salto quinze, eu não caio. Isso é bom?  Não.
Eu não sou assim porque eu quero, sou assim porque fui moldada. Moldada pelos meus próprios erros, desconfianças e inseguranças. Já fui chamada de insensível inúmeras vezes... Não foi sempre assim. Já acreditei no amor, hoje não acredito mais. Mas também não sou como um robô – às vezes me pego pensando no dia que chegará alguém que vai provar que tudo isso que escrevo é besteira, que não existe padrão, que não há como calcular, apenas sentir.

Não digo nada disso da boca pra fora. Digo isso porque sei, porque já vivi. Porque já sofri. Tá difícil deixar alguém entrar novamente, quase impossível... Se eu acredito que “um dia você encontrará alguém que o fará entender por que nunca deu certo com ninguém antes”? É claro que acredito. Afinal, eu parei de apenas de sentir, não de ter esperança.

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Devaneio velho que encontrei nos recônditos dos meus arquivos e provavelmente vem de 2011, 2012. Useless as always.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Self

Ela é uma incógnita. Você até pode tentar desvendá-la, isso custará muito tempo e como você provavelmente não é o cara certo, desistirá no primeiro equívoco. Ela tem um milhão de conhecidos, quinhentos mil colegas e uma amiga. Ela não liga, ela só quer viver sua própria vida sem ninguém interferindo negativamente – em seu ponto de vista. Ela tem muitos, ela toda é relativa.
Ela só tem dezesseis, mas já teve dezoito, dezenove, vinte e vinte e um. Ela faz qualquer coisa. Ela não dá à mínima. Está se destruindo e sabe disso, mas não dá à mínima.
Bebidas alcoólicas, cigarros, substâncias Ilícitas, alucinógenos, anfetaminas, qualquer comprimido, qualquer inalante que a faça viajar, sair do mundo, que é medíocre demais para ela. Não, ela não é qualquer junkie viciada, ela é um gênio interrompido. Seu intelecto era demasiado para sua antiga escola, por isso ela a deixou. Tinha quarenta por cento de presença e ainda assim obtinha as notas máximas para passar de ano, mas era detida. Ela não queria mais opressão, mais escola, mais aquela vida, ela queria ser livre.
Seus pais tentaram contê-la no início, tentaram transformá-la em um robô perfeito, assim que perceberam sua capacidade intelectual, mas com o passar nos anos, desistiram ao ver as proporções que aquilo tomava. Fichas na polícia, furtos e brigas. Rotina. Ela vai pra casa duas vezes na semana, ela não precisa daquilo. Ela só quer ser livre.