domingo, 13 de abril de 2014

#4

        Hoje sai com um amigo que não saía a tempos. Cresci com ele, desde a primeira série nos conhecemos e hoje já to com dezenove (vovó, i know). Fomos a um role dos rosqueiros/rockistas da cidade e até que foi bacana, fazia tempo que não ia a lugares como esse. Daquele com bandas desconhecidas que fazem cover de Rock 80-90 e que tu só vê galera com roupa de banda e essas coisas. Me sinto bem em ambientes assim.
        Impossível não ficar fazendo paralelos com os outros lugares que eu frequentei que tinham essa característica, e que foram na presença da minha ex-prima. Inclusive vi uma guria lá que era idêntica a ela e agia da mesma forma, na frente colada ao palco, gritando e tietando pros caras da banda que nem ao menos conhece. Cabelo vermelho vibrante, coque, roupas largadas.
        Digo ex-prima porque não a considero mais nada, na verdade ela não é mais nada pra mim, e antigamente sentia como se ela fosse um pedaço de mim - pra gente ver como as coisas mudam. Conhecia a guria desde que era um bebê cabeçudo, carreguei ela no colo, éramos inseparáveis, tanto na infância (brincando de Barbie, terra, casinha, escolinha, pulando e se estrupiando no sítio do nosso tio) e na adolescência, sendo loucas por aí, bebendo até cair, fumando e cheirando tudo o que aparecesse, não que seja um motivo de orgulho, pelo menos pra mim, só que era daquelas companheiras que se acabarem matando um cara tu ajuda a enterrar e mente até a morte dizendo que não fizeram nada - pelo menos era assim pra mim. Depois de quinze anos de amizade (a idade dela), o elemento foi filha da puta comigo e me traiu de uma das piores formas possíveis. Ela foi um agravante pros meus surtos psicóticos que me levaram a psiquiatra e aos remédios controlados, e hoje estou sem relação alguma com ela. Não que eu não queira nem um pouco, mas é que eu simplesmente não poderia confiar de novo, depois de tudo o que passamos juntas.
        Outra coisa que me irritou pra caralho foi meu namorado (ah jura ? só pra variar mesmo ?) porra, como consegue ser tão possessivo e cheio de mimimi ? Só de eu ter ligado pra avisar que ia sair com esse meu amigo, já encompridou a conversa pra uma briga/discussão ridícula e sem fundamento e confesso que não sei lidar e nem sei se um dia vou aprender. Ele nunca sai do meu pé, nunca me dá descanso e tem fincado na cabeça que eu tenho que ser igual a ele. Ligar e ficar lambendo, jogando confete e sendo melosa. Simplesmente não consigo ser assim, não é porque eu não o amo ou coisa assim. Porque eu amo, cara. Nâo tem como, apesar de eu odiá-lo, não sei como seria a minha vida sem ele e nem ao menos se eu teria uma vida, vai saber. O fato de merda é que ele nunca consegue entender isso, precisa de uma constante provação disso, precisa ser babado o tempo todo e eu odeio isso! Acho que a gente depois de tanto tempo junto já tem certa intimidade pra não precisar ficar com mimimis do tipo "oi, tudo bem ? ai to bem e você ? o que fez hoje ? o que ta fazendo ? e sua mãe ? e seu pai ? e seu cachorro ?", não precisa disso. Dá muito bem pra ligar e falar o que tem que falar, já que ele praticamente mora no meu apartamento e já sabemos tudo um da vida do outro, não é? Queria tanto que ele entendesse isso e parasse de cobrar tanto de mim.

#3

        As pessoas costumam dizer que eu sou manipuladora. Controladora, manipuladora, dissimulada. Sempre vivi em negação, mas estou começando a concordar com elas. Um tio psicólogo (mais louco do que eu) me disse que tenho um "grande poder de sedução", logo, consigo as coisas que quero e esse poder funciona com todos a minha volta, exceto a Nave-mãe. Como já disse anteriormente, tenho uma ligação de dependência muito forte com ela e é como se ela fosse imune a todos os meus super poderes e também tivesse maior domínio sobre mim, coisa que nem eu mesma tenho. Tenho uma necessidade de contar tudo pra ela, pedir opinião, auxílio, ligo mil vezes por dia, é inevitável. Enxergo ela como uma entidade superior, isenta de pecados e defeitos, um nível acima dos seres humanos comuns. Essa é a minha visão da Nave-mãe. Não sei nem se ela tem consciência de que significa tudo isso pra mim, provavelmente nunca vou falar porque não é do meu feitio, porém eu sinto.
        Por meio de jogos, brincadeiras, investidas sutis vou conseguindo que façam tudo o que eu quero e isso é tudo de forma inconsciente. Não faço nada de propósito, porque quero (tá, as vezes faço).e isso não é nem um pouco bom. Divago as vezes quanto estou sozinha sobre o que as pensam sobre mim ou o que realmente querem de mim quando se aproximam. Na universidade não tenho amigos, amigos assim referindo-se ao sentido da palavra - tem uma galera com quem eu converso e tal. Eu gosto de almoçar sozinha sempre no R.U., tanto porque eu como muito devagar e me sinto incomodada pela pessoa que tem de ficar me esperando, quanto porque não me aproximo de nenhuma mesa de conhecidos. Pode-se dizer que eu me auto-excluo no meu universo particular, estrelado e intocável. Quando me conhecem dizem que sou extrovertida, simpática, elétrica e falante - o problema é chegar a conhecer.